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26.4.10

Intervenção no Arrudas

O rio Arrudas, em Belo Horizonte, está a cada dia sendo mais e mais enterrado em câmara mortuária de concreto. Sua lápide, out-doors que fazem menção a uma tal de linha verde que ninguém consegue perceber, nem sequer a intenção da cor.
Seus trechos que ainda podem ser observados ao ar livre mostram o quanto o rio assimilou toda a desorganização do crescimento da cidade. Desde o início do povoamento vem sendo castigado como depósito dos descartes humanos de todos os tipos - e aqui o eufemismo é óbvio. Para muitos, longe de um rio, não passa de coletor de esgoto da cidade.
E quando essa degradação é percebida, qual o movimento que produz? Muito antes de recuperá-lo, enterram-no como se nunca tivesse existido... e colhem os efeitos catastróficos desse disparate tanto no ponto de vista da paisagem, quanto no que diz respeito às enchentes recorrentes após as chuvas em pancadas.

Para recuperar o rio Arrudas como elemento indissociável da cidade de Belo Horizonte, há que recuperá-lo na lembrança e no desejo daqueles que passam por ele e que o percebem apenas como moldura mal arranjada de uma avenida. Toda a gente, tanto os que o frequentam como transeuntes obrigatórios entre estações de metrô e as rodovias, quanto os que não o frequentam precisam ser convidados a reconhecê-lo como rio... como lugar de possível convivência.


A intervenção urbanística proposta para tanto é a de aproximar os pedestres do rio sem cobrí-lo como o concreto da linha verde vem fazendo. Através de um deck que faz meandros, o objetivo é convidar quem por ali passa a se defrontar com o rio e não evitá-lo. Mais ainda, procura estabelecer o conceito de unidade de convivência, ou, como o projeto se nomeia: unidade de USOFRUTO.
Aposta-se muito aqui no poder que um pé de fruta (laranjeira nesse caso), com sua sombra, seu perfume, a umidade que traz ao ambiente, e as frutas doces e gratuitas, como transformador do cotidiano deste espaço, como fomentador da unidade de USOFRUTO, pequeno trecho do rio Arrudas que pode ser concebido e usufruído como já pode assim ter sido em algum momento do passado da cidade.
Se o resultado for de assimilação e aproveitamento da oportunidade, o resgate de mais trechos do rio, ou quem sabe todo ele, pode passar de uma utopia a uma reivindicação social.

André Luis
Thiago